A loucura do primeiro timoneiro!
Faz-se uma festa de benfiquistas na localidade de Gavião e em Lisboa à mesma hora um pedinte vai para a porta do Media Markt na “Catedral da Luz” pedir uma esmola, enrolado em meio cobertor cinzento, já gasto e suado, com um cão pequeno a fazer trapézio, usando um fundo de garrafa de plástico recortado com uma navalha tão ferrugenta quanto é possível utilizar, antes de deitar fora, para reunir a boa vontade de doação de uns euros!
Em Lisboa, dois timoneiros discutem uma table of contents nacional, procurando responder ao mercado financeiro português que se viu aflito em arranjar credito internacional, com custo baixinho como se gosta!
O primeiro timoneiro, como se diz por ai não é um líder situacional, dado que não foi capaz de prever a crise, a crise que já vinha de trás, a crise que ajudou a aumentar com os favores aos boys, aqui e acolá! Este primeiro, não líder, de visão nacional não tem nada, na mesma semana diz que era estúpido recuar em toda a linha de obras públicas (isto depois de deixarem de ser público/privadas) para dizer vamos adiar, vamos adiar… e ainda pede ao povo um “esforço patriótico”!
Durante os últimos anos, este timoneiro nunca pediu desculpa ao povo, apesar dos escândalos pessoais que foi visado (na revista TABU desta semana, no tema da escola há um excerto que cabia aqui “Sandro, apanhado a riscar um azulejo, reage em tom provocatório: vai fazer-me o quê? Pôr-me um processo? É mais um para a colecção!”) e ainda assim consegue uma reeleição! Fantástico, este socialismo de cunha e de falsas promessas sociais!
Será certamente um case study para historiadores que hão-de vir daqui a 20 anos!
O povo começa a ficar aflito com esta governação, quase 700 mil desempregados e a perspectiva não é melhor! Mas do outro lado, temos indicadores positivos da economia, como por exemplo sermos o país que no primeiro trimestre de 2010 mais carros ligeiros comprou em toda a Europa! Enfim vá-se lá perceber o povo, ou serão só alguns?
Mas era necessário credibilizar o sistema financeiro português, para que o distinto Sarkosy não batesse com a porta a Merkell e ao Banco Central Europeu (tendo este a génese do modelo bancário nórdico) levando assim à falência do Euro. Como que revelando uma desunião aparente entre o eixo franco-alemão na ajuda à Grécia!
O primeiro timoneiro acorda num dia mais bem disposto, dado que quando se diz as verdades a consciência pesa menos, e toca a aumentar os impostos a eito, porque a realidade das contas precisa de medidas urgentes! Mas… e aqui há um grande MAS, estava lá um segundo timoneiro mais preparado para a crise, mais nacionalista de coração, com olhos mais próximos da realidade, que não fez carreira política quando podia ter feito, e assim conseguiu evoluir por via exclusivamente profissional!
Este timoneiro apesar de ser novo nesta função, começa por pedir desculpas! A humildade de se dirigir ao país, com medidas austeras, como as que impôs do lado da despesa (e não só da receita como o primeiro) fez com que se sentisse na responsabilidade de pedir desculpa “!”, não porque tivesse feito algum mal, mas porque percebe que aquelas medidas são necessárias no momento actual!
“Foram os outros, os (…) cabrões dos socialistas, ladrões! (…) Socialistas da treta, o povo mexilhão é que se lixa! (…)” - grito de revolta de um popular que passa, subindo a calçada da Estrela junto á Assembleia da República.
Eis pois, este segundo timoneiro que impõe uma redução de 5% sobre salários de cargos públicos, obriga o (re)pensamento da TTT - Terceira Travessia do Tejo (custo estimado em 2 mil milhões de euros) e procura fazer com que este sacrifício seja feito do lado da despesa do estado e não do lado de quem já paga imensos impostos!
Ter a capacidade de dizer aos portugueses que o estado não pode continuar a gastar mais que aquilo que a economia produz, é dizer que os nossos filhos ainda podem suspirar por um futuro, caso contrário seremos os novos islandeses.
Como diz Paulo Portas “ Não podemos ser ricos nas obras públicas, e pobres na hora de dar pensões/reformas”.
Em Lisboa, nas conversas das gentes que pensam sobre estes assuntos vai-se dizendo: “Os Estados Unidos espirraram e foi a Europa que ficou constipada!”
Mas já que Portugal de ano para ano, apresenta medidas mais duras, poder-se-ia ir mais longe, nomeadamente nos gastos do grande estado e não nas pessoas do privado que fazem a economia aguentar-se.
Espanha foi mais longe e num só ano prevê diminuir o défice de 11,6% para 6%.
- Cortes de 5% nos salários dos funcionários públicos – primeira vez na história moderna de Espanha;
- Cortes de 15% no caso dos governantes;
- Congelamento das pensões em 2011;
- Fim do “cheque-bebé" - 2500 euros por nascimento;
- Redução superior a seis mil milhões de euros no investimento público estatal;
- Corte para 600 milhões de euros dos apoios estatais ao investimento externo;
- Poupança adicional de 1200 milhões de euros por parte das comunidades autónomas e autarquias;
- Redução das empresas públicas.
Nota: Este texto podia ser pura ficção, mas se não fosse não era a mesma coisa!