Bom dia,
Trago-vos três assuntos para uma reflexão de domingo.
1) O primeiro tema é nacional / internacional, isto é a crise financeira europeia, nomeadamente a da divida pública portuguesa.
Apesar de ser formado em gestão, não tenho abordado muito o tema da crise nacional do financiamento público, pois acho que é um tema tão complexo e pesado que poderia não conseguir expressar devidamente todos os factos, em breves apontamentos, como normalmente faço neste blogue para que a leitura seja leve e de fácil compreensão a todos.
Corria até sérios riscos de ser simplicista e portanto falacioso ao nível do meu conhecimento sobre o tema.
Ainda assim, esta semana não poderia deixar de comentar / partilhar convosco umas notas sobre a emissão de dívida portuguesa a 10 anos, apelidada de grande sucesso pelo nosso Prime Minister Sócrates.
De facto esta semana ocorreu uma emissão de dívida portuguesa, sendo que os juros praticados nos dias anteriores à emissão, eram superiores de 7% (patamar psicológico de catástrofe para Portugal indicado pelo Ministro das Finanças Teixeira do Santos). O que fez com a venda a 6,7% seja realmente melhor, dado que em valores tão altos, toda a centésima percentual conta no posterior pagamento de juros.
A reacção de José Sócrates é que há muito tempo me confunde, isto é, será que ele vive no mesmo país que eu?
1250 Milhões de euros
juro máximo de 6,7%
"Um sucesso na procura e um sucesso no preço e isso é a melhor demonstração de confiança na economia portuguesa por parte dos mercados" refere PM Sócrates
1. Muita dessa dívida foi comprada (amparada) pelo BCE (European Central Bank - ECB), para evitar o aumento de especulação sobre o €URO;
2. Portugal é Europa, logo o surgimento de uma qualquer catástrofe financeira, será alvo do resgate pelos parceiros europeus, logo o factor de medo e isolamento não se coloca;
3. Com pagamentos da dívida a uma taxa de juro de 6,7%, todos estão dispostos a emprestar dinheiro, até eu (se tivesse uma liquidez financeira estabilizada), comprava obrigações a este País;
a. É um retorno muito alto, atenção que o valor abonado foi de 1250 milhões de euros a um juro de 6,7%. Para exemplo, em Portugal a média de mercado nas contas a prazo, a TANL situa-se em torno dos 2,5% e a TANB em torno dos 4%.
Será mesmo um sucesso?
Professor norte-americano Nobel da Economia
![]()
EN | Pyrrhic Bond AuctionsI’m with Calculated Risk here: it says something about the sheer desperation of the European situation that Portugal’s ability to sell 10-year bonds at an interest rate of “only” 6.7 percent is considered a success. If you think about the debt dynamics here — the burden of growing interest payments on an economy that is likely to face years of grinding debt deflation — an interest rate that high is little short of ruinous. But it is, indeed, not as bad as people were expecting last week; hence, success. A few more successes and the European periphery will be destroyed. |
PTExcertos | Considerar um sucesso a capacidade de Portugal colocar obrigações a dez anos a uma taxa de juro de 'apenas' 6,7% diz alguma coisa do profundo desespero da situação europeia. Se se pensar sobre a dinâmica da dívida, uma taxa de juro tão alta é pouco menos que ruinosa. Não é, de facto, tão má como as pessoas estavam à espera na semana passada, daí o sucesso.Mais alguns sucessos (destes), e a periferia europeia será destruída. |
Por outro lado, soubemos agora que este sucesso, vai absorver o esforço de redução salarial da função pública prevista para este ano de 2011, isto é:
“O facto de Portugal estar a pagar mais caro pelo crédito dos mercados vai o brigar-nos a pagar este ano mais 808 milhões de euros do que aquilo que se previa no Orçamento do Estado (6.326 milhões de euros), praticamente o mesmo que poupa com os cortes salariais ou o equivalente a 80% do aumento da receita decorrente da subida da taxa normal do IVA”, escreve o jornal Público.
Afinal, não é um sucesso, pelo menos com o carácter imaterial que palavra tende a descrever. É apenas adiar um problema por mais uns tempos, até à próxima emissão de divida.
FMI é solução?
Que soluções existem?
A curto prazo, a solução mais acessível é sem dúvida, o FMI vir ajudar Portugal, que não pode ser visto com nenhum drama, até porque Portugal todos os anos paga quotas para fazer parte desse organismo.
Suponham o exemplo (simplicista):
- Empréstimo para comprar casa – valor 100.000€
- BANCO A - taxa de juro é 6,7% -
- Valor total do empréstimo é 106.700€
- Valor dos juros 6.700€
- BANCO A - taxa de juro é 4% -
- Valor total do empréstimo é 104.000€
- Valor dos juros 4.000€
- Para além do contrato deste empréstimo, tem de assinar um compromisso de honra que não vão contrair mais empréstimos para comprar outra casa enquanto este empréstimo decorrer
É obvio que, qualquer pessoa razoável escolherá a segunda opção Banco B. A relação de Portugal com o FMI é da mesma magnitude.
Isto é O FMI, é o banco B para Portugal, é alguém que nos empresta dinheiro a uma taxa inferior ao mercado, mas com a condição de não fazermos nada disparatado no nosso endividamento, e ai está o calcanhar de Aquiles para o PM Sócrates, é que ele ainda quer começar a construir o Aeroporto e o TGV em 2011, e se o FMI viesse, isso estaria fora de questão.
Actualmente, e mais propriamente na campanha socialista de Alegre, há uma tentativa de confundir as pessoas ao dizer que o FMI, a vir, irá criar uma hemorragia de desemprego na função pública, esta afirmação na sua globalidade, é mentira e demagogia.
O que acontecerá é que investimentos com viabilidade reduzida à actualidade dos nossos dias serão adiados, pois não há dinheiro para luxos.
Fundo Monetário Europeu, solução a Médio Prazo?
Acredito que a constituição do FME, será a médio prazo o instrumento financeiro ideal para evitar ataques especulativos a uma qualquer situação financeira de um estado membro, e com isso subir os juros da divida soberana desse mesmo membro.
Mas atenção os melhores fiscais/auditores a um bom desempenho orçamental e fiscal não são aqueles que fazem parte dele, mas sim agentes externos e autónomos, por isso se há especulação sobre determinado país, e Portugal pode ser exemplo, é porque há fundo de verdade nessa especulação.
Isto é o dinheiro está a ser mal gerido, e não se está efectivamente a criar riqueza, pelo contrário, está-se a empobrecer as populações e o PIB irá ressentir-se-á imediatamente dessa situação, evidenciando um menor consumo interno como consequência directa deste empobrecimento.
Em boa verdade Jean-Claude Juncker (Presidente do Eurogrupo), refere:
"Falta à Europa um instrumento que permita gerir eventuais crises de forma adequada”.
Mario Draghi, Presidente do Fórum de Estabilidade Financeira do G20 refere ainda
“O FME deve ser sempre considerado como a cereja do bolo e que o principal trabalho a desenvolver é o da consolidação fiscal.”
Fontes
http://tv2.rtp.pt/noticias/index.php?t=Nobel-da-Economia-ve-ruina-da-Europa-no-sucesso-do-leilao-portugues.rtp&article=406641&layout=10&visual=3&tm=6
http://krugman.blogs.nytimes.com/2011/01/12/pyrrhic-bond-auctions/
http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-//EP//TEXT+IM-PRESS+20100319STO70945+0+DOC+XML+V0//PT
http://jornal.publico.pt/noticia/14-01-2011/custo-extra-com-a-divida-vai-consumir-poupanca-com-corte-dos-salarios-21017254.htm
http://aeiou.visao.pt/eurocrise-paul-krugman-considera-ruinosa-taxa-de-juro-do-leilao-da-divida-publica-portuguesa=f585798
2) O segundo tema que vós trago, é o facto da necessidade de haver um grito de revolta, é necessário decretar luto municipal. Já é facto que o concelho de Gavião neste início de ano, está MUITO MAIS POBRE.
Perdemos muito mais que dinheiro, perdemos o valor humano, a iniciativa criativa que o empresário Daniel colocava ao serviço do nosso concelho ao fazer turístimo de qualidade, papel evidenciado na actividade desempenhada pelo Clube Trilho na praia fluvial do Alamal, era um balão de oxigénio à economia local, que foi mais um que se esvaziou.
O Daniel Leal, sócio gerente do Clube Trilho, era sem dúvida o principal empresário/dinamizador turístico do nosso concelho, desistiu da luta inglória, que é estar no sítio certo mas com a total ausência de apoio construtivo e constante por parte da Câmara Municipal de Gavião.
Deste meu posto de vigia, os meus agradecimentos ao Daniel Leal, acreditando no seu grande sucesso em outros voos.
Relembro só:
- Foi o Clube Trilho, que o Alamal teve enchentes de pessoas durante a época balnear e fora dela.
- Foi com Clube Trilho que várias gerações de jovens tiveram o seu Part-time laboral, sazonal e que quantas vezes não foi o “bom” suporte de algumas economias familiares.
- Foi também com o Clube Trilho, que os Caminhos-de-ferro Portugueses fizeram acordos turísticos, e reanimaram /rentabilizaram ocasionalmente a estação de Belver.
- Foi com o Clube Trilho e o seu programa de aventura, que várias associações de escuteiros partilharam bons momentos no grande ex-líbris da Praia Fluvial do Alamal.
- Foi porventura até, o Clube Trilho o motor para muitas pessoas não residentes em Gavião, terem adquirido uma segunda casa na região para férias.
- Foi o Clube Trilho, que ajudou a criar a associação de Gaviões PaintBall Team.
Etc
Agora mais um empresário terminou a sua jornada entre nós, olhemos para algumas das causas que podem ajudar a esclarecer a direcção rumo ao vazio, que o espaço começa a tomar:
- O hotel do INATEL a ser sub-gerido, sempre sem visitantes;
- O projecto da Câmara Municipal de Gavião para Museu de Artes do Rio chumbado pela CCDR ALENTEJO;
- O projecto de elevação das águas residuais da praia Fluvial do Alamal, para a ETAR de Cadafaz, por parte da Câmara Municipal de Gavião, esta na gaveta, adiado talvez para 2012 ou 2013;
- Manutenção do espaço deficiente, vejam só como estava a praia no dia 9 de Janeiro Domingo de 2011
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
3) Intervenção do Deputado Cristóvão Crespo, o único deputado eleito pelo circulo de Portalegre com efectiva voz na Assembleia da República Portuguesa, convocando os deputadas socialistas e o governo a acordar para a realidade Portuguesa.
Cristóvão Crespo: O Governo não pode continuar a destruir o nosso futuro colectivo O deputado de Portalegre afirmou que “não podemos continuar a olhar para todas as tabelas e orgulharmo-nos de não sermos os últimos”.
Cristóvão Crespo convocou, esta quarta-feira, o Governo e os deputados da bancada socialista para “a realidade”. “É urgente perceber a realidade que existe e não o que o Governo tem fantasiado sobre ela. Os Portugueses exigem e merecem respeito, não pode continuar a ser destruído o nosso futuro colectivo e, o PSD não pactua com as leituras facilitistas e ligeiras da situação que vivemos, aliás como tem vindo a denunciar ao longo do tempo”. O social-democrata acusou o PS de ser o “Rei Midas” dos tempos modernos por “transformar, não em ouro mas em desgraça, quase tudo em que toca”.
Face a este cenário, o deputado declarou que “é tempo de perceber até onde a ausência de políticas adequadas dos governos do Partido Socialista trouxe o país”. “Não podemos continuar a olhar para todas as tabelas e orgulharmo-nos de não sermos os últimos, não se pode ficar satisfeito porque ainda há alguém pior que nós. A nossa obrigação é olhar para os melhores e tentar alcançá-los. É urgente que as boas notícias sejam mesmo boas notícias e, não exercícios que já não convencem ninguém. Não pode continuar a acontecer o quadro que se nos depara hoje. Não podemos continuar a assistir ao implementar de medidas cegas e devastadoras para a coesão social, económica e territorial do País”.
Contudo, Cristóvão Crespo lembrou que “nem tudo é mau, os Portugueses são do melhor que há”. “Ainda esta semana no Alto Alentejo, no Distrito de Portalegre, tivemos oportunidade de verificar que apesar das maiores taxas de desemprego do País, das maiores taxas de insolvência do País, do maior recuo demográfico do País, do maior índice de envelhecimento do País, existe a força e determinação das suas gentes. Por tudo isso não vamos soçobrar”.
“O autarca de Marvão não pode continuar a ver equipamentos estruturais para o concelho, como sejam o Golfe de Marvão na área do turismo ou o aproveitamento do perímetro de rega da barragem da Apartadura presos à inacção do Governo. O jovem de Castelo de Vide com exploração agrícola multifuncional onde se incluem as estufas ou a criação de pecuária em regime extensivo não pode estar à mercê de políticas na área de agricultura que desconheçam as respectivas realidades. A exploração leiteira modelar que o jovem de Carreiras, em Portalegre, conseguir erguer não pode ser vítima de orientações e sinais errados que o governo possa vir a definir no sector da agricultura e da pecuária”.